REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Quarta-feira da 2ª Semana da Páscoa
1) Oração
Imploramos, ó Deus, a vossa clemência,
ao recordar cada ano o mistério pascal
que renova a dignidade humana,
e nos traz a esperança de ressurreição:
concedei-nos acolher com amor
o que celebramos com fé.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 3, 16-21)
Naquele tempo Jesus disse a Nicodemos: 16De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que
todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. 17Pois Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 18Quem crê nele não será condenado, mas quem não crê já está
condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus. 19Ora, o julgamento consiste nisto:
a luz veio ao mundo, mas as pessoas amaram mais as trevas do que a luz, porque
as suas obras eram más. 20Pois todo o que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, para
que suas ações não sejam denunciadas. 21Mas quem pratica a verdade se aproxima da luz, para que suas ações sejam
manifestadas, já que são praticadas em Deus.
3) Reflexão
* O
evangelho de João é como um tecido, feito com três fios diferentes mas
parecidos. Os três combinam tão bem entre si que, às vezes, não dá para
perceber quando se passa de um fio para outro. 1. O primeiro fio são os fatos e as palavras de Jesus dos anos trinta,
conservados pelas testemunhas oculares que guardaram as coisas que Jesus fez e
ensinou. 2. O segundo fio são os
fatos da vida das comunidades. A partir da sua fé em Jesus e convencidas da
presença dele em seu meio, as comunidades iluminavam a sua caminhada com as
palavras e os gestos de Jesus. Isto influenciou a descrição dos fatos. Por
exemplo, o conflito das comunidades com os fariseus do fim do primeiro século
marcou a maneira de descrever os conflitos de Jesus com os fariseus. 3. O terceiro fio são comentários feitos pelo
evangelista. Em certas passagens, é difícil perceber quando Jesus deixa de
falar e o próprio evangelista começa a tecer seus comentários. O texto do
evangelho de hoje, por exemplo, é uma reflexão bonita e profunda do próprio
evangelista a respeito da ação de Jesus. A gente quase nem percebe a diferença
entre a fala de Jesus e a fala do evangelista. De qualquer maneira, tanto uma
como outra, ambas são palavra de Deus.
* João 3,16:: Deus amou o
mundo. A palavra mundo
é uma das palavras mais freqüentes no evangelho de João: 78 vezes! Ela tem
vários significados. Em primeiro lugar mundo
pode significar a terra, o espaço habitado pelos seres humanos (Jo 11,9; 21,25)
ou mesmo o universo criado (Jo 17,5.24). Mundo
também pode significar as pessoas que habitam esta terra, a humanidade toda (Jo
1,9; 3,16; 4,42; 6,14; 8,12). Pode significar ainda um grande grupo, um grupo
numeroso de pessoas, no sentido quando falamos “todo mundo” (Jo 12,19; 14,27).
Aqui no nosso texto a palavra mundo
tem o sentido de humanidade, todo ser humano. Deus ama a humanidade de tal modo
que chegou a entregar seu filho único. Quem aceita que Deus chega até nós em
Jesus, este já passou pela morte e já tem a vida eterna.
* João 3,17-19: O verdadeiro sentido do julgamento. A imagem de Deus que
transparece nestes três versículos é de um pai cheio de ternura e não de um
juiz severo. Deus mandou seu filho não para julgar e condenar o mundo, mas para
que o mundo seja salvo por ele. Quem crê em Jesus e o aceita como revelação de
Deus não é julgado, pois já é aceito por Deus. E quem não crê em Jesus já está
julgado. Ele se excluiu a si mesmo. E o evangelista repete o que já disse no
prólogo: muitas pessoas não querem aceitar Jesus, porque a sua luz revela a
maldade que nelas existe (cf. Jo 1,5.10-11).
* João 3,20-21: Praticar a verdade. Existe em todo ser humano uma semente divina,
um traço do Criador. Jesus, como revelação do Pai, é uma resposta a este desejo
mais profundo do ser humano. Quem quer ser fiel ao mais profundo de si mesmo,
aceitará Jesus. Difícil você encontrar uma visão ecumênica mais ampla
do que o evangelho de João expressa nestes versículos.
* Completando o significado da palavra
mundo no Quarto Evangelho. Outras vezes, a palavra mundo significa aquela parte da humanidade que se opõe a Jesus e à
sua mensagem. Aí a palavra mundo toma
o sentido de “adversários” ou “opositores” (Jo 7,4.7; 8,23.26; 9,39; 12,25).
Este mundo contrário à prática
libertadora de Jesus é chefiado pelo Adversário ou Satã, também chamado de
“príncipe deste mundo” (Jo 14,30; 16,11). Ele representa o império romano e, ao
mesmo tempo, os líderes dos judeus que estão expulsando os seguidores e as
seguidoras de Jesus das sinagogas. Este mundo
persegue e mata as comunidades, trazendo tribulações aos fiéis (Jo 16,33).
Jesus as libertará, vencendo o príncipe deste mundo (Jo 12,31). Assim, mundo significa uma situação de
injustiça, de opressão, gerando ódio e perseguição contra as comunidades do
Discípulo Amado. Os perseguidores são aquelas pessoas que estão no poder, os
dirigentes, tanto do império quanto da sinagoga. Enfim, todos aqueles que
praticam a injustiça usando para isto o nome do próprio Deus (Jo 16,2). A
esperança que o evangelho dá para as comunidades perseguidas é que Jesus é mais
forte que o mundo. Por isso ele diz:
“No mundo tereis tribulações. Mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo
16,33).
4) Para um confronto pessoal
1)
Deus amou o mundo de tal modo que chegou a entregar seu próprio filho. Será que
esta verdade já chegou a penetrar no mais profundo do meu eu, da minha
consciência?
2)
A realidade mais ecumênica que existe é a vida que Deus nos deu e pela qual Ele
entregou seu próprio filho. Como vivo o ecumenismo no dia a dia da minha vida?
5) Oração final
Bendirei o SENHOR em todo tempo,
seu louvor estará sempre na minha boca.
Eu me glorio no SENHOR,
ouçam os humildes e se alegrem. (Sl 33, 2-3)
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