REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Quinta-feira da Oitava da Páscoa
1) Oração
Ó Deus, que reunistes povo tão diversos
no louvor do vosso nome,
concedei aos que renasceram nas águas do batismo
ter no coração a mesma fé
e na vida a mesma caridade.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 24,35-48)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
Naquele tempo, 24,35 Os discípulos, por sua
parte, contaram o que lhes havia acontecido no caminho e como o tinham
reconhecido ao partir o pão.
36 Enquanto ainda falavam
dessas coisas, Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: “A paz esteja
convosco!”
37 Perturbados e
espantados, pensaram estar vendo um espírito.
38 Mas ele lhes disse:
“Por que estais perturbados, e por que essas dúvidas nos vossos corações?
39 Vede minhas mãos e
meus pés, sou eu mesmo; apalpai e vede: um espírito não tem carne nem ossos,
como vedes que tenho”.
40 E, dizendo isso,
mostrou-lhes as mãos e os pés.
41 Mas, vacilando eles
ainda e estando transportados de alegria, perguntou: “Tendes aqui alguma coisa
para comer?”
42 Então ofereceram-lhe
um pedaço de peixe assado.
43 Ele tomou e comeu à
vista deles.
44 Depois lhes disse:
“Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se
cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos profetas e nos
Salmos”.
45 Abriu-lhes então o
espírito, para que compreendessem as Escrituras, dizendo:
46 “Assim é que está
escrito, e assim era necessário que Cristo padecesse, mas que ressurgisse dos
mortos ao terceiro dia.
47 E que em seu nome se
pregasse a penitência e a remissão dos pecados a todas as nações, começando por
Jerusalém.
48 Vós sois as
testemunhas de tudo isso”.
Palavra da
Salvação.
3) Reflexão
* Nestes dias depois da Páscoa, os textos do evangelho relatam
as aparições de Jesus. No início, nos primeiros anos depois da morte e
ressurreição de Jesus, os cristãos não se preocupavam em defender a
ressurreição por meio das aparições. Eles mesmos, a comunidade viva, era a
grande aparição de Jesus ressuscitado. Mas na medida em que cresciam as
críticas dos inimigos contra a fé na ressurreição e que, internamente, surgiam
críticas e dúvidas a respeito das várias funções nas comunidades (cf. 1Cor
1,12), eles começaram a lembrar as aparições de Jesus. Há dois tipos de
aparições: (1) as que acentuam as dúvidas e resistências dos discípulos em crer
na ressurreição, e (2) as que chamam a atenção para as ordens de Jesus aos
discípulos e discípulas conferindo-lhes alguma missão. As primeiras respondem às
críticas vindas de fora. Elas mostram que os cristãos não são pessoas ingênuas
e crédulas que aceitam qualquer coisa. Pelo contrário. Eles mesmos tiveram
muitas dúvidas em crer na ressurreição. As outras respondem às críticas de
dentro e fundamentam as funções e tarefas comunitárias não nas qualidades
humanas sempre discutíveis, mas sim na autoridade e nas ordens recebidas do
próprio Jesus ressuscitado. A aparição de Jesus narrada no evangelho de hoje
combina os dois aspectos: as dúvidas dos discípulos e a missão de anunciar e
perdoar recebida de Jesus.
* Lucas 24,35: O resumo de Emaús. De retorno a Jerusalém, os dois discípulos encontram a
comunidade reunida e comunicam a experiência que tiveram. Narram o que
aconteceu no caminho e como reconheceram Jesus na fração do pão. A comunidade
reunida, por sua vez, comunica a eles como Jesus aparecera a Pedro. Foi uma
partilha mútua da experiência de ressurreição, como até hoje acontece quando as
comunidades se reúnem para partilhar e celebrar sua fé, sua esperança e seu
amor.
* Lucas 24,36-37: A aparição de Jesus causa espanto nos
discípulos. Neste momento, Jesus se faz presente no meio deles e diz: “A Paz esteja com vocês!” É a saudação mais freqüente de Jesus:
“A Paz esteja com vocês!” (Jo 14,27; 16,33; 20,19.21.26). Mas os discípulos, ao
verem Jesus, ficam com medo. Eles se espantam e não reconhecem Jesus. Diante
deles está o Jesus real, mas eles imaginam estar vendo um espírito, um
fantasma. Há um desencontro entre Jesus de Nazaré e Jesus ressuscitado. Não conseguem
crer.
* Lucas 24,38- 40: Jesus os ajuda a superar o medo e a
incredulidade. Jesus faz duas
coisas para ajudar os discípulos a superar o espanto e a incredulidade. Ele
mostra as mãos e os pés, dizendo: “Sou eu!”, e manda apalpar o corpo, dizendo:
“Espírito não tem carne nem osso como vocês estão vendo que eu tenho!” Jesus mostra as mãos e os pés, porque é
neles que estão as marcas dos pregos (cf. Jo 20,25-27). O Cristo ressuscitado é
Jesus de Nazaré, o mesmo que foi morto na Cruz, e não um Cristo fantasma como
imaginavam os discípulos ao vê-lo. Ele mandou apalpar o corpo, porque a
ressurreição é ressurreição da pessoa toda, corpo e alma. A ressurreição não
tem nada a ver com a teoria da imortalidade da alma, ensinada pelos gregos.
* Lucas 24,41-43: Outro gesto para ajudá-los a superar a
incredulidade. Mas não bastou.
Lucas diz que por causa de tanta alegria eles não podiam crer. Jesus pede que
lhe dêem algo para comer. Eles deram um pedaço de peixe e ele comeu diante
deles, para ajudá-los a superar a dúvida.
* Lucas 24,44-47: Uma chave de leitura para compreender o
sentido novo da Escritura. Uma das maiores dificuldades dos primeiros
cristãos era aceitar um crucificado como sendo o messias prometido, pois a
própria lei de Deus ensinava que uma pessoa crucificada era “um maldito de
Deus” (Dt 21,22-23). Por isso, era importante saber que a própria Escritura já
tinha anunciado que “o Cristo devia
sofrer e ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que em seu nome fosse
proclamado o arrependimento para o perdão dos pecados a todas as nações”.
Jesus mostrou a eles como isto já estava escrito na Lei de Moisés, nos profetas
e nos Salmos. Jesus ressuscitado, vivo no meio deles, se torna a chave para
abrir o sentido total da Sagrada Escritura.
* Lucas 24,48: Vocês são testemunhas disso. Nesta ordem
final está toda a missão das comunidades cristãs: ser testemunha da
ressurreição, para que se torne manifesto o amor de Deus que nos acolhe e nos
perdoe, e quer que vivamos em comunidade como seus filhos e filhas, irmãos e
irmãs uns dos outros.
4) Para um confronto pessoal
1) Às vezes, a incredulidade e a
dúvida se aninham no coração e procuram enfraquecer a certeza que a fé nos dá a
respeito da presença de Deus em nossa vida. Você já viveu isto alguma vez? Como
o superou?
2) Ser testemunha do amor de Deus
revelado em Jesus é a nossa missão, a minha missão. Será que eu sou?
5) Oração final
Ó SENHOR, nosso Deus,
como é glorioso teu nome em toda a terra!
Sobre os céus se eleva a tua majestade!
Que coisa é o homem, para dele te lembrares,
que é o ser humano, para o visitares? (Sl 8,2.5)
Sobre os céus se eleva a tua majestade!
Que coisa é o homem, para dele te lembrares,
que é o ser humano, para o visitares? (Sl 8,2.5)
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