REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Quinta-feira da 4ª Semana da Páscoa
1) Oração
Ó Deus, que restaurais a natureza humana
dando-lhe uma dignidade ainda maior,
considerai o mistério do vosso amor,
conservando para sempre os dons da vossa graça
naqueles que renovastes.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 13, 16-20)
Naquele tempo, depois de haver lavado os pés dos
discípulos, Jesus disse-lhes: 16Em verdade, em verdade, vos digo: o servo não é maior do que seu senhor,
e o enviado não é maior do que aquele que o enviou. 17Já que sabeis disso, sereis felizes
se o puserdes em prática. 18Eu não falo de todos vós. Eu conheço aqueles que escolhi. Mas é preciso
que se cumpra o que está na Escritura: ‘Aquele que come do meu pão levantou
contra mim o calcanhar’. 19Desde já, antes que aconteça, eu vo-lo digo, para que, quando acontecer,
acrediteis que eu sou. 20Em verdade, em verdade, vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a
mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou”.
3) Reflexão
* Nos próximos dias, com exceção das festas, o evangelho
diário é tirado da longa conversa de Jesus com os discípulos durante a Última
Ceia (Jo 13 a 17). Nestes cinco capítulos que descrevem a despedida de Jesus,
percebe-se a presença daqueles três fios de que falamos anteriormente e que
tecem e compõem o evangelho de João: a palavra de Jesus, a palavra das comunidades
e a palavra do evangelista que fez a
última redação do Quarto Evangelho. Nestes cinco capítulos, os três fios estão
de tal maneira entrelaçados que o todo se apresenta como uma peça única de rara
beleza e inspiração, onde é difícil distinguir o que é de um e o que é do
outro, mas onde tudo é Palavra de Deus para nós.
* Estes cinco capítulos trazem a conversa que Jesus teve com
os seus amigos, na véspera de ser preso e morto. Era uma conversa amiga, que
ficou na memória do Discípulo Amado. Jesus, assim parece, queria prolongar ao
máximo esse último encontro, momento de muita intimidade. O mesmo acontece
hoje. Há conversa e conversa. Há conversa superficial que gasta palavras à toa
e revela o vazio das pessoas. E há conversa que vai fundo no coração e fica na
memória. Todos nós, de vez em quando, temos esses momentos de convivência
amiga, que dilatam o coração e vão ser força na hora das dificuldades. Ajudam a
ter confiança e a vencer o medo.
* Os cinco versículos do Evangelho de hoje tiram duas
conclusões do lava-pés (Jo 13,1-15). Falam (1) do serviço como característica
principal dos seguidores e seguidoras de Jesus, e (2) da identidade de Jesus como
revelação do Pai.
* João 13,16-17: O
servo não é maior que o seu senhor. Jesus acabou de lavar os pés dos discípulos. Pedro levou
susto e não quis que Jesus lhe lavasse os pés. “Se eu não te lavar os pés, não
terás parte comigo” (Jo 13,8). E basta lavar os pés; o resto não precisa (Jo
13,10). O valor simbólico do gesto do lava-pés consistia em aceitar Jesus como
o Messias Servidor que se entrega a si mesmo pelos outros, e recusar um messias
rei glorioso. Esta entrega de si mesmo como servo de todos é a chave para entender
o gesto do lava-pés. Entender isto é a raiz da felicidade de uma pessoa: “Se vocês compreenderam isso, serão felizes
se o puserem em prática". Mas havia pessoas, mesmo entre os
discípulos, que não aceitavam Jesus como Messias Servo. Não queriam ser servidores
dos outros. Provavelmente, queriam um messias glorioso como Rei e Juiz, de
acordo com a ideologia oficial. Jesus diz: "Eu
não falo de todos vocês. Eu conheço aqueles que escolhi, mas é preciso que se
cumpra o que está na Escritura: Aquele que come pão comigo, é o primeiro a me
trair!” João se refere a Judas, cuja traição vai ser anunciada logo em
seguida (Jo 13,21-30).
* João 13,18-20: Digo
isto agora, para que creiais que EU SOU. Foi por ocasião da libertação do Egito ao pé do Monte
Sinai, que Deus revelou o seu nome a Moisés: “Estou com você!” (Ex 3,12),
“Estou que Estou” (Ex 3,14), “Estou” ou “Eu sou” me mandou até vocês!” (Ex
3,14), O nome Javé (Ex 3,15)
expressa a certeza absoluta da presença libertadora de Deus junto do seu povo.
De muitas maneiras e em muitas ocasiões esta mesma expressão Eu Sou ou Sou Eu é usada
por Jesus (Jo 8,24; 8,28; 8,58; Jo 6,20; 18,5.8; Mc 14,62; Lc 22,70). Jesus é a
presença do rosto libertador de Deus no meio de nós.
4) Para um confronto pessoal
1) O servo não é maior que o seu senhor. Como faço da minha vida um
serviço permanente aos outros?
2) Jesus soube conviver com pessoas que não o aceitavam. E eu consigo?
5) Oração final
Vou cantar para sempre a bondade do SENHOR;
anunciarei com minha boca sua
fidelidade de geração em geração.
Pois disseste: “Minha bondade está de pé
para sempre”.
Estabeleceste tua fidelidade nos céus. (Sl
88, 2-3)
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