quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sábado da 2ª Semana da Páscoa


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

Sábado da 2ª Semana da Páscoa

1) Oração

Ó Deus, por quem fomos remidos

e adotados como filhos,
velai sobre nós em vosso amor de Pai
e concedei aos que creem no Cristo
a liberdade verdadeira e a herança eterna.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (João 6, 16-21)

16Ao anoitecer, os discípulos desceram para a beira-mar. 17Entraram no barco e foram na direção de Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha vindo a eles. 18Soprava um vento forte, e o mar estava agitado. 19Os discípulos tinham remado uns cinco quilômetros, quando avistaram Jesus andando sobre as águas e aproximando- se do barco. E ficaram com medo. 20Jesus, porém, lhes disse: “Sou eu. Não tenhais medo!” 21Eles queriam receber Jesus no barco, mas logo o barco atingiu a terra para onde estavam indo.

3) Reflexão
*  O evangelho de hoje traz o episódio do barco no mar agitado. Jesus se encontra na montanha, os discípulos no mar e o povo em terra.  Na maneira de descrever os fatos, João procura ajudar as comunidades a descobrir o mistério que envolvia a pessoa de Jesus. Ele faz isso evocando textos do Antigo Testamento que aludem ao êxodo.
* Na época em que João escreve, o barquinho das comunidades enfrentava o vento contrário tanto da parte de alguns judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho das profecias e figuras do Antigo Testamento, como da parte de alguns pagãos convertidos que pensavam ser possível uma aliança entre Jesus e o império.
* João 6,15:  Jesus na Montanha. Diante da multiplicação dos pães, o povo concluiu que Jesus devia ser o messias esperado. Pois, de acordo com a esperança do povo da época, o Messias iria repetir o gesto de Moisés de alimentar o povo no deserto. Por isso, de acordo com a ideologia oficial, o povo achava que Jesus fosse o messias e, por isso, quis fazer dele um rei (cf. Jo 6,14-15).  Este apelo do povo era uma tentação tanto para Jesus como para os discípulos. No evangelho de Marcos, Jesus obrigou os discípulos a embarcar imediatamente e a ir para o outro lado do lago (Mc 6,45). Queria evitar que eles se contaminassem com a ideologia dominante. Sinal de que o “fermento de Herodes e dos fariseus”, era muito forte (cf. Mc 8,15). Jesus, ele mesmo, enfrenta a tentação por meio da oração na Montanha.
*  João 6,16-18. A situação dos discípulos. Já era tarde. Os discípulos desceram ao mar, subiram no barco e se dirigem a Cafarnaum, do outro lado do mar. João diz que já estava escuro e que Jesus ainda não tinha chegado. Além disso, soprava um vento forte e o mar ia ficando muito agitado. De um lado ele evoca o êxodo: atravessar o mar no meio das dificuldades. De outro lado evoca a situação das comunidades no império romano: como os discípulos, viviam no meio da noite, com vento contrário e mar agitado e Jesus parecia ausente!
*  João 6,19-20. A mudança da situação.  Jesus chega andando sobre as águas do mar da vida. Os discípulos ficam com medo. Como na história dos discípulos de Emaús, eles não o reconhecem (Lc 24,28). Jesus se aproxima e diz: “Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo, quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito importantes: (1) Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou o seu nome dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3) Lembra ainda o livro de Isaías que apresenta o retorno do exílio como um novo êxodo, onde Deus aparece repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7).
*  Para o povo da Bíblia, o mar era o símbolo do abismo, do caos, do mal (Ap 13,1). No Êxodo, o povo faz a travessia para a liberdade enfrentando e vencendo o mar. Deus divide o mar através de seu sopro e o povo atravessa com pé enxuto (Ex 14,22). Em outras passagens a Bíblia mostra Deus vencendo o mar (Gn 1,6-10; Sl 104,6-9; Pr 8,27). Vencer o mar significa impor-lhe os seus limites e impedir que ele engula toda a terra com suas ondas. Nesta passagem Jesus revela sua divindade dominando e vencendo o mar, impedindo que a barca de seus discípulos seja tragada pelas ondas. Esta maneira de evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as comunidades a perceber melhor a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida. Não tenham medo! 
*  João 6,22. Chegaram no porto desejado. Eles querem recolher Jesus no barco, mas não precisou, pois chegaram na terra para onde iam. Chegaram no porto desejado. Diz o Salmo: “Ele transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram. Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou ao porto desejado”. (Sl 107,29-30)

4) Para um confronto pessoal
1. Na montanha: Por que Jesus busca um jeito de ficar sozinho para rezar depois da multiplicação dos pães? Qual o resultado da sua reza?
2. É possível caminhar hoje sobre as águas do mar da vida? Como?

5) Oração final

Exultai, justos, no SENHOR,
que merece o louvor dos que são bons.
Louvai o SENHOR com a cítara,
com a harpa de dez cordas cantai-lhe.
Cantai-lhe um cântico novo,
tocai a cítara com arte, bradai.  (Sl 32, 1-3)



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