REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Sábado da 2ª Semana da Páscoa
1) Oração
Ó Deus, por quem fomos remidos
e adotados como filhos,
velai sobre nós em vosso amor de Pai
e concedei aos que creem no Cristo
a liberdade verdadeira e a herança eterna.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 6, 16-21)
16Ao anoitecer, os discípulos desceram para a beira-mar. 17Entraram no barco e foram na direção
de Cafarnaum, do outro lado do mar. Já estava escuro, e Jesus ainda não tinha
vindo a eles. 18Soprava um vento forte, e o mar estava agitado. 19Os discípulos tinham remado uns
cinco quilômetros, quando avistaram Jesus andando sobre as águas e aproximando-
se do barco. E ficaram com medo. 20Jesus, porém, lhes disse: “Sou eu. Não tenhais medo!” 21Eles queriam receber Jesus no barco,
mas logo o barco atingiu a terra para onde estavam indo.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje traz o episódio do barco no mar agitado.
Jesus se encontra na montanha, os
discípulos no mar e o povo em terra. Na maneira de descrever os fatos, João procura ajudar as
comunidades a descobrir o mistério que envolvia a pessoa de Jesus. Ele faz isso
evocando textos do Antigo Testamento que aludem ao êxodo.
* Na época em que João escreve, o
barquinho das comunidades enfrentava o vento contrário tanto da parte de alguns
judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de Jesus ao tamanho das
profecias e figuras do Antigo Testamento, como da parte de alguns pagãos
convertidos que pensavam ser possível uma aliança entre Jesus e o império.
* João
6,15: Jesus na Montanha. Diante da multiplicação dos pães, o povo
concluiu que Jesus devia ser o messias esperado. Pois, de acordo com a
esperança do povo da época, o Messias iria repetir o gesto de Moisés de
alimentar o povo no deserto. Por isso, de acordo com a ideologia oficial, o
povo achava que Jesus fosse o messias e, por isso, quis fazer dele um rei (cf.
Jo 6,14-15). Este apelo do povo era
uma tentação tanto para Jesus como para os discípulos. No evangelho de Marcos,
Jesus obrigou os discípulos a embarcar imediatamente e a ir para o outro lado
do lago (Mc 6,45). Queria evitar que eles se contaminassem com a ideologia
dominante. Sinal de que o “fermento de Herodes e dos fariseus”, era muito forte
(cf. Mc 8,15). Jesus, ele mesmo, enfrenta a tentação por meio da oração na
Montanha.
* João 6,16-18. A situação dos discípulos. Já era tarde.
Os discípulos desceram ao mar, subiram no barco e se dirigem a Cafarnaum, do
outro lado do mar. João diz que já estava escuro e que Jesus ainda não tinha
chegado. Além disso, soprava um vento forte e o mar ia ficando muito agitado.
De um lado ele evoca o êxodo: atravessar o mar no meio das dificuldades. De
outro lado evoca a situação das comunidades no império romano: como os
discípulos, viviam no meio da noite, com vento contrário e mar agitado e Jesus
parecia ausente!
* João 6,19-20. A mudança da situação. Jesus chega andando sobre as águas do
mar da vida. Os discípulos ficam com medo. Como na história dos discípulos de
Emaús, eles não o reconhecem (Lc 24,28). Jesus se aproxima e diz: “Sou eu! Não tenham medo!” Aqui, de novo,
quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra alguns fatos muito
importantes: (1) Lembra como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o
Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou o seu nome
dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3)
Lembra ainda o livro de Isaías que apresenta o retorno do exílio como um novo
êxodo, onde Deus aparece repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13; 44,6.25; 45,5-7).
* Para o povo da Bíblia, o mar era o símbolo do abismo, do
caos, do mal (Ap 13,1). No Êxodo, o povo faz a travessia para a liberdade
enfrentando e vencendo o mar. Deus divide o mar através de seu sopro e o povo
atravessa com pé enxuto (Ex 14,22). Em outras passagens a Bíblia mostra Deus
vencendo o mar (Gn 1,6-10; Sl 104,6-9; Pr 8,27). Vencer o mar significa
impor-lhe os seus limites e impedir que ele engula toda a terra com suas ondas.
Nesta passagem Jesus revela sua divindade dominando e vencendo o mar, impedindo
que a barca de seus discípulos seja tragada pelas ondas. Esta maneira de evocar
o Antigo Testamento, de usar a Bíblia, ajudava as comunidades a perceber melhor
a presença de Deus em Jesus e nos fatos da vida. Não tenham medo!
* João 6,22. Chegaram no porto desejado. Eles querem
recolher Jesus no barco, mas não precisou, pois chegaram na terra para onde
iam. Chegaram no porto desejado. Diz o Salmo: “Ele transformou a tempestade em
leve brisa e as ondas emudeceram. Ficaram alegres com a bonança, e ele os guiou
ao porto desejado”. (Sl 107,29-30)
4) Para um confronto pessoal
1. Na montanha: Por que Jesus busca um
jeito de ficar sozinho para rezar depois da multiplicação dos pães? Qual o
resultado da sua reza?
2. É possível caminhar hoje sobre as águas do mar da
vida? Como?
5) Oração final
Exultai, justos, no SENHOR,
que merece o louvor dos que são bons.
Louvai o SENHOR com a cítara,
com a harpa de dez cordas cantai-lhe.
Cantai-lhe um cântico novo,
tocai a cítara com arte, bradai. (Sl 32, 1-3)
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