REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Quarta-feira da 3ª Semana da Páscoa
1) Oração
Permanecei, ó Pai, com vossa família
e, na vossa bondade, fazei que participem eternamente
da ressurreição do vosso Filho
aqueles a quem destes a graça da fé.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 6,35-40)
Naquele tempo, 35disse Jesus às multidões: “Eu sou o
pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais
terá sede. 36Contudo, eu vos disse que me vistes, mas não credes. 37Todo aquele que o Pai me dá, virá a
mim, e quem vem a mim eu não lançarei fora, 38porque eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade
daquele que me enviou. 39E esta é a vontade daquele que me enviou: que eu não perca nenhum
daqueles que ele me deu, mas os ressuscite no último dia. 40Esta é a vontade do meu Pai: quem vê
o Filho e nele crê tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”.
3) Reflexão
* João 6,35-36: Eu sou o pão da vida. Entusiasmado com a perspectiva de ter o pão
do céu de que falava Jesus e que dá vida para sempre (Jo 6,33), o povo pede:
"Senhor, dá nos sempre desse pão!" (Jo 6,34). Pensavam que Jesus
estivesse falando de um pão especial. Por isso, interesseiramente pede: “Dá-nos
sempre desse pão!” Este pedido do povo faz lembrar a conversa de Jesus com a
Samaritana. Jesus tinha dito que ela poderia ter dentro de si a fonte de água
que brota para a vida eterna, e ela interesseiramente pedia: "Senhor,
dá-me dessa água!" (Jo 4,15). A Samaritana não percebeu que Jesus não estava
falando da água material. Da mesma maneira, o povo não se deu conta de que
Jesus não estava falando do pão material. Por isso, Jesus responde bem
claramente: "Eu sou o pão da vida!
Quem vem a mim não terá mais fome, e quem acredita em mim nunca mais terá sede”.
Comer o pão do céu é o mesmo que crer em
Jesus. É crer que ele veio do céu como revelação do Pai. É aceitar o
caminho que ele ensinou. Mas o povo, apesar de estar vendo Jesus, não acredita
nele. Jesus percebe a falta de fé e diz: “Vocês me vêem, mas não acreditam”.
* João 6,37-40: Fazer a vontade daquele que me enviou. Depois da conversa com a Samaritana, Jesus tinha dito
aos discípulos: "O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no
céu!" (Jo 4,34). Aqui, na conversa com o povo a respeito do pão do céu,
Jesus toca no mesmo assunto: “Eu desci do
céu, não para fazer a minha vontade, e sim para fazer a vontade daquele que me
enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum
daqueles que ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia. Sim, esta é a
vontade do meu Pai: que toda pessoa que vê o Filho e nele acredita, tenha a
vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” Este é o alimento que o povo deve buscar: fazer a
vontade do Pai do céu. É este o pão que sustenta a pessoa na vida e lhe dá
rumo. Aí começa a vida eterna, vida que é mais forte que a morte! Se estivessem
realmente dispostos a fazer a vontade do Pai, não teriam dificuldade em
reconhecer o Pai presente em Jesus.
* João 6,41-43: Os judeus murmuram. O evangelho de amanhã começa com o versículo 44
(Jo 6,44-51) e salta os versículos 41 a 43. No versículo 41, começa a conversa
com os judeus, que criticam Jesus. Damos aqui uma breve explicação do
significado da palavra judeus no
evangelho de João para evitar que uma leitura superficial alimente em nós
cristãos o sentimento do anti-semitismo. Antes de tudo, é bom lembrar que Jesus
era Judeu e continua sendo judeu (Jo 4,9). Judeus eram seus discípulos e
discípulas. As primeiras comunidades cristãs eram todas de judeus que aceitavam
Jesus como o Messias. Só depois, pouco a pouco, nas comunidades do Discípulo
Amado, gregos e pagãos começam a ser aceitos em pé de igualdade com os judeus.
Eram comunidades mais abertas. Mas tal abertura não era aceita por todos. Alguns
cristãos vindos do grupo dos fariseus queriam manter a “separação” entre judeus
e pagãos (At 15,5). A situação ficou mais crítica depois da destruição de
Jerusalém no ano 70. Os fariseus se tornam a corrente religiosa dominante
dentro do judaísmo e começam a definir as diretrizes religiosas para todo o
povo de Deus: suprimir o culto em língua grega; adotar unicamente o texto
bíblico em hebraico; definir a lista dos livros sagrados eliminando os livros
que estavam só na tradução grega da Bíblia: Tobias, Judite, Ester; Baruc,
Sabedoria, Eclesiástico e os dois livros dos Macabeus; segregar os
estrangeiros; não comer nenhuma comida, suspeita de impureza ou de ter sido
oferecida aos ídolos. Todas estas medidas assumidas pelos fariseus repercutiam
nas comunidades dos judeus que aceitavam Jesus como Messias. Estas comunidades
já tinham caminhado muito. A abertura para os pagãos era irreversível. A Bíblia
em grego já era usada há muito tempo. Não podiam voltar atrás. Assim,
lentamente, cresce um distanciamento mútuo entre cristianismo e judaísmo. As
autoridades judaicas nos anos 85-90 começam a discriminar os que continuavam
aceitando Jesus de Nazaré como Messias (Mt 5, 11-12; 24,9-13). Quem teimava em
permanecer na fé em Jesus era expulso da sinagoga (Jo 9,34) . Muitos das
comunidades cristãs sentiam medo desta expulsão (Jo 9,22), já que significava
perder o apoio de uma instituição forte e tradicional como a sinagoga. Os que
eram expulsos perdiam os privilégios legais que os judeus tinham conquistado ao
longo dos séculos dentro do império. As pessoas expulsas perdiam até a
possibilidade de ter um enterro decente. Era um risco muito grande. Esta
situação conflituosa do fim do primeiro século repercute na descrição do
conflito de Jesus com os fariseus. Quando o evangelho de João fala em judeus não está falando do povo judeu
como tal, mas está pensando muito mais naquelas poucas autoridades farisaicas
que estavam expulsando os cristãos das sinagogas nos anos 85-90, época em que o
evangelho foi escrito. Não podemos permitir que esta afirmações sobre os façam
crescer o anti-semitismo entre os cristãos.
4) Para um confronto pessoal
1) Anti-semitismo: olhe bem dentro de você e arranque
qualquer resto de anti-semitismo.
2) Comer o pão do céu é crer em Jesus. Como isto me
ajuda a viver melhor a eucaristia?
5) Oração final
Aclamai a Deus, terra inteira,
cantai hinos à glória do seu nome;
dai glória em seu louvor.
Dizei a Deus: “Como são estupendas as tuas
obras!
pela grandeza da tua força
teus adversários se curvam diante de ti”. (Sl 65,1-3)
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