REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 4ª Semana da Páscoa
1) Oração
Concedei, ó Deus todo-poderoso,
que, celebrando o mistério da ressurreição do Senhor,
possamos acolher com alegria
a nossa redenção.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 10, 22-30)
Naquele tempo, 22Em Jerusalém celebrava-se a festa da Dedicação. Era inverno. 23Jesus andava pelo templo, no pórtico
de Salomão. 24Os judeus, então, o rodearam e disseram-lhe: “Até quando nos deixarás em
suspenso? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente!” 25Jesus respondeu: “Eu já vos disse,
mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu pai dão testemunho
de mim. 26Vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. 27As minhas ovelhas escutam a minha
voz, eu as conheço e elas me seguem. 28Eu lhes dou a vida eterna. Por isso, elas nunca se perderão e ninguém
vai arrancá-las da minha mão. 29Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior do que todos, e ninguém pode
arrancá-las da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos um”.
3) Reflexão
* Os capítulos 1 a 12 do evangelho de João são chamados “O
Livro dos Sinais”. Neles acontece a revelação progressiva do Mistério de Deus
em Jesus. Na mesma medida em que Jesus vai fazendo a revelação, crescem a
adesão e a oposição a ele de acordo com a visão com que cada um espera a
chegada do Messias. Esta maneira de descrever a atividade de Jesus não é só
para informar como a adesão a Jesus acontecia naquele tempo, mas também e
sobretudo como ela deve acontecer hoje em nós, seus leitores e suas leitoras.
Naquele tempo, todos esperavam a chegada do Messias e tinham os seus critérios
para poder reconhecê-lo. Queriam que ele fosse do jeito que eles o imaginavam.
Mas Jesus não se submete a esta exigência. Ele revela o Pai do jeito que o Pai
é e não do jeito que o auditório o gostaria. Ele pede conversão no modo de
pensar e de agir. Hoje também,
cada um de nós tem os seus gostos e preferências. Às vezes, lemos o evangelho
para ver se encontramos nele a confirmação dos nossos desejos. O evangelho de
hoje traz uma luz a este respeito.
* João 10,22-24: Os
Judeus interpelam Jesus. Era frio. Mês de outubro. Festa da
dedicação que celebrava a purificação do templo feita por Judas Macabeu (2Mc
4,36.59). Era uma festa bem popular de muitas luzes. Jesus anda na esplanada do
Templo, no Pórtico de Salomão. Os judeus o questionam: "Até quando nos
irás deixar em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente". Eles
querem que Jesus se defina e que eles possam verificar, a partir dos critérios
deles, se Jesus é ou não é o Messias. Querem provas. É a atitude de quem se
sente dono da situação. Os novatos devem apresentar suas credenciais. Do
contrário não terão direito de falar e de atuar.
* João 10,25-26: Resposta
de Jesus: as obras que faço dão testemunho de mim. A resposta de Jesus é sempre a mesma: "Eu já disse, mas vocês não acreditam
em mim. As obras que eu faço em nome do meu Pai, dão testemunho de mim; vocês,
porém, não querem acreditar, porque vocês não são minhas ovelhas”. Não se
trata de dar provas. Nem adiantaria. Quando uma pessoa não quer aceitar o
testemunho de alguém, não há prova que o leve a pensar diferente. O problema de
fundo é a abertura desinteressada da pessoa para Deus e para a verdade. Onde
houver esta abertura, Jesus é reconhecido pelas suas ovelhas. “Quem é pela verdade escuta minha voz”
dirá Jesus mais adiante a Pilatos (Jo 18,37). Esta abertura estava faltando nos
fariseus.
* João 10,27-28: As minhas ovelhas conhecem minha voz. Jesus retoma a parábola do Bom Pastor
que conhece suas ovelhas e é conhecido por elas. Este mútuo entendimento -
entre Jesus que vem em nome do Pai e as pessoas que se abrem para a
verdade - é fonte de vida eterna. Esta união
entre o criador e a criatura através de Jesus supera a ameaça da morte: “Elas jamais perecerão e ninguém as arrebatará
de minha mão!” Estão seguras e salvas e, por isso mesmo, em paz e com plena
liberdade.
* João 10,29-30: Eu e
o Pai somos um. Estes dois versículos abordam o mistério
da unidade entre Jesus e o Pai: “Meu Pai,
que tudo entregou a mim, é maior do que todos. Ninguém pode arrancar coisa
alguma da mão do Pai. O Pai e eu somos um”. Esta e várias outras frases nos
deixam entrever algo deste mistério maior: “Quem vê a mim vê o Pai” (Jo 14,9).
“Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 10,38). Esta unidade entre Jesus e o
Pai não é automática, mas é fruto da obediência: “Eu sempre faço o que o Pai me mostra que é para
fazer” (Jo 8,29; 6,38; 17,4). “Meu alimento é fazer a vontade do Pai (Jo 4,34;
5,30). A carta aos hebreus diz que Jesus teve que aprender, através do
sofrimento, o que é ser obediente (Hb 5,8). “Ele foi obediente até à morte, e
morte de Cruz” (Fl 2,8). A obediência de Jesus não é disciplinar, mas é
profética. Ele obedece para ser total transparência e, assim, ser revelação do
Pai. Por isso, ele podia dizer: “Eu e o pai somos um!” Foi um longo processo de
obediência e de encarnação que durou 33 anos. Começou com o Sim de Maria (Lc
1,38) e terminou com “Tudo está consumado!” (Jo 19,30).
4) Para um confronto pessoal
1) Minha obediência a Deus é disciplinar
ou profética? Revelo algo de Deus ou só me preocupa com a minha própria
salvação?
2) Jesus não se submeteu às exigências
dos que queriam verificar se ele era mesmo o messias. Existe em mim algo desta
atitude dominadora e inquisidora dos adversários de Jesus?
5) Oração final
Deus tenha pena de nós e nos abençoe,
faça brilhar sobre nós a sua face.
para que se conheça na terra o teu
caminho,
entre todos os povos a tua salvação. (66, 2-3)
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