REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Sexta-feira da 2ª Semana da Páscoa
1) Oração
Concedei, ó Deus, aos vossos servos
a graça da ressurreição,
pois quisestes que o vosso Filho
sofresse por nós o sacrifício da cruz
para nos libertar do poder do inimigo.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 6, 1-15)
Naquele tempo, 1Jesus foi para o outro lado do mar
da Galiléia, ou seja, de Tiberíades. 2Uma grande multidão o seguia, vendo os sinais que ele fazia a favor dos
doentes. 3Jesus subiu a montanha e sentou-se lá com os seus discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos
judeus. 5Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que vinha a ele, Jesus
disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que estes possam comer?” 6Disse isso para testar Filipe, pois
ele sabia muito bem o que ia fazer. 7Filipe respondeu: “Nem duzentos denários de pão bastariam para dar um
pouquinho a cada um”. 8Um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse: 9“Está aqui um menino com cinco pães
de cevada e dois peixes. Mas, que é isso para tanta gente?” 10Jesus disse: “Fazei as pessoas
sentar- se”. Naquele lugar havia muita relva, e lá se sentaram os homens em
número de aproximadamente cinco mil. 11Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados,
tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. 12Depois que se fartaram, disse aos
discípulos: “Juntai os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” 13Eles juntaram e encheram doze
cestos, com os pedaços que sobraram dos cinco pães de cevada que comeram. 14À vista do sinal que Jesus tinha
realizado, as pessoas exclamavam: “Este é verdadeiramente o profeta, aquele que
deve vir ao mundo”. 15Quando Jesus percebeu que queriam levá-lo para proclamá-lo rei,
novamente se retirou sozinho para a montanha.
3) Reflexão
* Hoje
começa a leitura do capítulo 6 do evangelho de João que se prolongará por
vários dias. Sinal da importância deste capítulo para a vivência da nossa fé. O
capítulo 6 traz dois sinais ou milagres: a multiplicação dos pães (Jo 6,1-15) e
a caminhada sobre as águas (Jo 6,16-21). Em seguida, traz o longo diálogo sobre
o Pão da Vida (Jo 6,22-71). João situa o fato perto da festa de Páscoa (Jo
6,4). O enfoque central é o confronto entre a antiga Páscoa do Êxodo e a nova
Páscoa que se realiza em Jesus. O diálogo sobre o pão da vida vai esclarecer a
nova páscoa que se realiza em Jesus.
* João 6,1-4: A situação. Na antiga
páscoa, o povo atravessou o Mar Vermelho. Na nova páscoa, Jesus atravessa o Mar
da Galiléia. Uma grande multidão seguia a Moisés. Uma grande multidão segue Jesus
neste novo êxodo. No primeiro êxodo, Moisés subiu a Montanha. Jesus, o novo
Moisés, também sobe à montanha. O povo seguia Moisés que realizou grandes
sinais. O povo segue a Jesus porque tinha visto os sinais que ele fazia para os
doentes.
* João 6,5-7: Jesus e Filipe. Vendo
a multidão, Jesus confronta os discípulos com a fome do povo e pergunta a
Filipe: "Onde vamos comprar pão para esse povo poder comer?" No
primeiro êxodo, Moisés tinha conseguido alimento para o povo faminto. Jesus, o
novo Moisés, irá fazer a mesma coisa. Mas Filipe, em vez de olhar a situação à
luz da Escritura, olhava a situação com os olhos do sistema e respondeu:
"Duzentos denários não bastam!" Um denário era o salário mínimo de um
dia. Filipe constata o problema e reconhece a sua total incapacidade para
resolvê-lo. Faz o lamento, mas não apresenta nenhuma solução.
* João 6,8-9: André e o menino. André, em vez de lamentar, busca solução. Ele
encontra um menino com cinco pães e dois peixes. Cinco pães de cevada e dois
peixes eram o sustento diário do pobre. O menino entrega o seu sustento! Ele
poderia ter dito: "Cinco pães e dois peixes, o que é isso para tanta
gente? Não vai dar para nada! Vamos partilhá-los aqui entre nós com duas ou
três pessoas!" Em vez disso, ele teve a coragem de entregar os cinco pães
e os dois peixes para alimentar 5000 pessoas (Jo 6,10)! Quem faz isso, ou é louco ou tem muita
fé, acreditando que, por amor a Jesus, todos se disponham a partilhar sua
comida como fez o menino!
* João 6,10-11: A multiplicação . Jesus pede para o povo se acomodar na grama. Em
seguida, multiplicou o sustento, a ração do pobre. Diz o texto: "Jesus
tomou os pães e, depois de ter dado graças, distribuiu-os aos presentes, assim
como os peixes, tanto quanto queriam!" Com esta frase, escrita no ano 100
depois de Cristo, João evoca o gesto da Última Ceia (1Cor 11,23-24). A
Eucaristia, quando celebrada como deve, levará as pessoas à partilha como levou
o menino a entregar seu sustento para ser partilhado.
* João 6,12-13: A sobra dos doze cestos. O número doze evoca a totalidade do povo com suas doze tribos. João não
informa se sobrou algo dos peixes. O que interessa a ele é evocar o pão como
símbolo da Eucarística. O evangelho de João não tem a descrição da Ceia
Eucarística, mas descreve a multiplicação dos pães como símbolo do que deve
acontecer nas comunidades através da celebração da Ceia Eucarística. Se entre
os povos cristãos houvesse real partilha, haveria comida abundante para todos e
sobrariam doze cestos para muitos
outros povos!
* João 6,14-15: Querem fazê-lo rei. O povo interpreta o gesto de Jesus dizendo:
"Esse é verdadeiramente o profeta que deve vir ao mundo!" A intuição
do povo é correta. Jesus de fato é o novo Moisés, o Messias, aquele que o povo
estava esperando (Dt 18,15-19). Mas esta intuição tinha sido desviada pela
ideologia da época que queria um grande rei que fosse forte e dominador. Por
isso, vendo o sinal, o povo proclama Jesus como Messias e avança para fazê-lo
rei! Jesus percebendo o que ia acontecer, refugia-se sozinho na montanha. Não
aceita esta maneira de ser messias e aguarda o momento oportuno para ajudar o
povo a dar um passo.
4) Para um confronto pessoal
1) Diante do problema da fome no mundo, você age como
Filipe, como André ou como o menino?
2) O povo queria um messias que fosse rei forte e
poderoso. Hoje, muitos vão atrás de líderes populistas. O que o evangelho de
hoje nos tem a dizer sobre isto?
5) Oração final
O SENHOR é minha luz e minha salvação;
de quem terei medo?
O SENHOR é quem defende a minha vida;
a quem temerei? (Sl 26, 1)
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