REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Segunda-feira da 6ª Semana da Páscoa
1) Oração
Concedei-nos, ó Deus,
que vejamos frutificar em
toda a nossa vida
as graças do mistério pascal,
que instituístes na vossa
misericórdia.
Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho segundo João (Jo 15,26-16,4)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 15,26"Quando vier o Defensor que eu vos mandarei da
parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de
mim. 27E vós também dareis testemunho, porque estais comigo desde o
começo. 16,1Eu vos disse estas coisas para que a vossa fé não seja
abalada. 2Expulsar-vos-ão das sinagogas, e virá a hora em que aquele
que vos matar julgará estar prestando culto a Deus. 3Agirão assim,
porque não conheceram o Pai, nem a mim. 4Eu vos digo isto, para que
vos lembreis de que eu o disse, quando chegar a hora".
3) Reflexão - Jo 15,26-16,4
* Nos capítulos 15 a 17 do Evangelho de João, o horizonte se
amplia para além do momento histórico da Ceia. Jesus reza ao Pai “não só por
estes mas também por aqueles que vão acreditar em mim por causa da palavra
deles” (Jo 17,20). Nestes capítulos, é constante a alusão à ação do Espírito na
vida das comunidades depois da Páscoa.
* João 15,26-27: A ação do Espírito Santo na vida
das comunidades
A
primeira coisa que o Espírito faz é dar testemunho de Jesus: “Ele dará testemunho de mim”. O Espírito
não é um ser espiritual sem definição. Não! Ele é o Espírito da verdade que vem
do Pai, será enviado pelo próprio Jesus e nos introduzirá na verdade plena (Jo
16,13). A verdade plena é o próprio Jesus: “Eu sou o caminho, a Verdade e a
Vida!” (Jo 14,6). No fim do primeiro século, havia alguns cristãos de tal modo
fascinados pela ação do Espírito que já não olhavam para Jesus. Afirmavam que
agora, depois da ressurreição, já não era preciso fixar-se em Jesus de Nazaré,
aquele “que veio na carne”. Dispensavam Jesus e ficavam só com o Espírito.
Diziam: “Anátema seja Jesus!” (1Cor 12,3). O Evangelho de João toma posição e
não permite separar a ação do Espírito da memória de Jesus de Nazaré. O
Espírito Santo não pode ser isolado como uma grandeza independente, separada do
mistério da encarnação. O Espírito Santo está inseparavelmente unido ao Pai e a
Jesus. É o Espírito de Jesus que o Pai nos envia, aquele mesmo Espírito que
Jesus nos conquistou pela sua morte e ressurreição. E nós, recebendo este
Espírito no batismo, devemos ser o prolongamento de Jesus: “E vós também dareis testemunho!” Não podemos esquecer nunca que
foi precisamente na véspera da sua morte que Jesus nos prometeu o Espírito. Foi
no momento em que ele se entregava pelos irmãos. Hoje em dia, o movimento
carismático insiste na ação do Espírito, e faz muito bem. Deve insistir cada
vez mais. Mas deveria ter a mesma insistência para afirmar que se trata do
Espírito de Jesus de Nazaré que, por amor aos pobres e marginalizados, foi
perseguido, preso e condenado à morte e que, por isso mesmo, nos prometeu o seu
Espírito, para que nós, depois da sua morte, continuássemos a sua ação e
fôssemos para a humanidade a mesma revelação do amor preferencial do Pai pelos
pobres e oprimidos.
* João 16,1-2: Não ter medo
O
evangelho adverte que ser fiel a este Jesus vai trazer dificuldades. Os
discípulos vão ser expulsos da sinagoga. Vão ser condenados à morte. Com eles
vai acontecer o mesmo que aconteceu com Jesus. Por isso mesmo, no fim do
primeiro século, havia pessoas que, para evitar a perseguição, diluíam a
mensagem de Jesus transformando-a numa mensagem gnóstica, vaga, sem definição,
que não contrastava com a ideologia do império. A estes se aplica o que Paulo
dizia: “Eles têm medo da cruz de Cristo” (Gl 6,12). E o próprio João, na sua
carta, dirá a respeito deles: “Há muitos impostores espalhados pelo mundo, que não querem reconhecer que Jesus Cristo veio na carne (se fez homem). Quem
assim procede é impostor e Anticristo” (2Jo 1,7). A mesma preocupação
transparece na exigência de Tomé: "Se eu não vir a marca dos pregos nas
mãos de Jesus, se eu não colocar o meu dedo na marca dos pregos, e se eu não
colocar a minha mão no lado dele, eu não acreditarei." (Jo 20,25) O Cristo
ressuscitado que nos prometeu o dom do Espírito é Jesus de Nazaré que continua
até hoje com os sinais da tortura e da cruz no seu corpo ressuscitado.
* João 16,3-4: Não sabem o que fazem
* Tudo isso acontece “porque
não reconhecem o Pai nem a mim”. Estas pessoas não têm a imagem correta de
Deus. Têm uma imagem vaga de Deus na cabeça e no coração. O Deus deles já não é
o Pai de Jesus Cristo que congrega todos na unidade e na fraternidade. No
fundo, é o mesmo motivo que levou Jesus a dizer: “Pai, perdoa, eles não sabem o
que estão fazendo’ (Lc 23,34). Jesus foi condenado pelas autoridades religiosas
porque, de acordo com o pensamento deles, ele teria uma falsa imagem de Deus.
Nas palavras de Jesus não transparece ódio nem vingança, mas compaixão: são
irmãos ignorantes que não sabem nada do nosso Pai.
4) Para confronto pessoal
1) O mistério da Trindade está
presente nas afirmações de Jesus, não como uma verdade teórica, mas como
expressão do compromisso do cristão com a missão de Jesus. Como vivo em minha
vida este mistério central da nossa fé?
2) Como vivo a ação do Espírito na
minha vida?
5) Oração final
Cantai ao Senhor um cântico novo,
ressoe o seu louvor na assembléia dos fiéis.
Alegre-se Israel em seu criador,
exultem em seu rei os filhos de Sião (Sl
149, 1-2).
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